terça-feira, 28 de junho de 2011

Woody Allen e seu " Alguns Balés sem Importância"

No livro Sem plumas, traduzido por Ruy Castro com breve citação de Emily Dickinson: " A esperança é a coisa com plumas".

Em " Alguns Balés sem Importância":

O feitiço

A overture começa com um uníssono de metais, embora os baixos pareçam estar avisando: " Ingnorem esses metais. O que eles entendem da vida?" O pano sobre e mostra o palácio do Príncipe Sigmund, com seu magnífico esplendor e ar refrigerado central. O Príncipe está fazendo 21 anos, mas não parece muito feliz ao abrir os presentes, já que a maioria deles são pijamas. Um a um, seus velhos amigos prestam-lhe homenagens e ele agradece com apertos de mão ou tapinhas nas costas, dependendo para onde estivessem virados. Confraterniza-se com seu melhor amigo Wolfshmidt, e os dois fazem um pacto de que, se um deles ficar careca, o outro usará peruca. Os demais dançam, preparando-se para a grande caçada, até que Sigmund pergunta: " Que caçada?" Ninguém sabe ao certo, mas a orgia já foi longe demais e , quando o garçom traz a conta, todos ficam putos da vida.

Entediado com a festa, Sigmund dança até a beira do lago, no qual contempla a si próprio durante 40 minutos, aborrecido por não ter trazido seu aparelho de barbear. De repente, ouve um bater de asas e vê um bando de cisnes selvagnes voando à luz do luar. Os cisnes dobram à direita e voam na direção do príncipe. Sigmund constata que o lider é parte cisne, parte mulher - infelizmente, divididos no sentido longitudinal.

Sigmund apaixona-se por ela e promete a si mesmo tomar cuidado para não fazer referência a ovos. Como sempre dançam um pas de deux, que termina quando Sigmund tem um ataque de lumbago. Yvette, a Mulher-Cisne, conta-lhe que foi enfeitiçada por um mago chamado Von Epps e que, por causa de sua aparência, é quase impossível conseguir um papagaio no banco. Num solo particularmente difícil, explica através da dança que a única maneira de quebrar o encanto é convencer seu amante a fazer um curso de taquigrafia por correspondência. Isto é odioso para Sigmund, mas mesmo assim ele jura que fará. Subitamente, Von Epps aparece, na forma de um saco de roupa suja, e leva Ivette com ele, finalizando o primeiro ato.

Começa o segundo ato, o qual se passa uma semana depois, e o Príncipe vai se casar com Justien, uma mulher de quem ele tinha se esquecido completamente. Sigmund está dilacerado por sentimentos ambíguos, por ainda ama a Mulher-Cisne, embora Justine também seja muito bonita e não tenha certas desvantagens, como penas e bico. Justine dança sedutoramente em torno de Sigmund, o qual indeciso entre casar-se ou procurar Ivette e ver se os médicos podem fazer alguma coisa. Soam os címablos e entra Von Epps, o mago. É verdade que não tinha sido convidado para o casamtno, mas promete não comer muito. Furioso Sigmund desembainha a espada e atravessa com ela o coração de Von Epps. Isso transforma um pouco a festa, e a mãe de Sigmund ordena ao cozinheiro que espere um pouco antes de servir o banquete.

Enquanto isso, Wolfschmidt, seguindo ordens de Sigmund, encontra Ivette - o que não foi difícil, porque, como ele explica, " Quantas mulheres cisnes existem em Hamburgo?" A despeito das lamúrias de Justine, Sigmund corre ao encontro de Ivette. Justine vai atrás dele e o beija, enquanto a orquesta ataca um furioso dobrado. Nesse momento, podemos perceber que Sigmund está usando a malha de balé pelo avesso. Ivette chora, dizendo que agora só a morte quebrará o encanto. E assim, numa das passagens mais comoventes e belas da história do balé, atira-se de cabeça contra o muro. Sigmund observa quando o corpo do cisne morto transforma-se no corpo de uma mulher morta, e finalmente compreende quão cruel pode ser a vida, principalmente para os galináceos. Arrasado, decide juntar-se a ela e, depois de uma delicada dança de lamentação, engole um bagre vivo.



Fez sentido?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Carne

Reparo

Queria arrancar as tripas e o útero por completo, ver o sangue quente putrefar.
E antever o mistério de morrer. Um aborto, coágulos e contrações. Tem que haver alguma coisa depois. Um óasis de pureza e mansidão.O nirvana.

Não dizem por aí que só se aprende com os próprios erros?! Mas a morte, tão soberana maior, a que nos inconforma, não podemos vivenciá-la e aprender com ela. Porque sondá-la é chance única. Como afeitar-se ao grande amor, inédito para sempre.

De viver ou morrer por ele.
A cada momento.
Mesmo que ruídos de aviões lá fora e fios elétricos que se enovelam raspem em nossos pés embaixo da cadeira.

Há muita louça para lavar e o calor é insuportável.
Insuportável o sentimento de não sentir sequer o eixo da terra e sua rotação, dada redução de nossa compreensão.

Falta-nos compreender a morte, que pode ser bonita.
Como se perder num buraco negro, ou ir por aí a procurar - essas são as almas penadas risonhas - ameaçadoras para muitos ateus.

Assim vem a vida, sono e vigília, em doses homeopáticas e diárias de luz e sombra.
Cada dia.
Igual.
Trevas e luz. Ambos cegam.

E a carne fere e arde, mesmo que alguns consigam adaptar-se ou ignorar tal fenômeno.

O que os médicos, estripadores, anatomistas vêm por dentro de nosso corpo?
Alma? Não. Sangue, líquido, assim, como o oxigênio vital. Último suspiro.

Ao decaptarem-nos, em guilhotina, veríamos nosso corpo - sem sê-lo - levitar?

Rasgar a pele, até que doa, como dói aceitar que assim tem que ser.
Regar as plantas, se manter limpa, mulher atraente, calma - e o bafo do tempo à espreita.
Tranquilize-se, mas escolha bem o barbitúrico. De última geração.
Veja um filme e reviva algum momento bom enquanto espera na fila do banco.
Lágrimas ?! - Ao travesseiro ! Não sob qualquer luar ou circunstância. Acompanhado de amigo? Familiares então? Minta até o fim.

Enquanto eu espero - para não ferir minha frágil sensibilidade - um reparo; amarro o avental.
Minhas amigas se casaram, outras têm lindos filhos. Será que é bom? Escolhas irreversíveis também.
Como querer ver do buraco da fechadura de uma porta blindada, o reino mortal?

Como esperar sentada o que permanece imprevisível?

Sim, as sutilezas, as miudezas diárias. Tirar o pó, revirar livros e as fotos na estante, para que não mofem.

Mas... - Que mofem e apodreçam!
Não é assim que nos ensina o luto? A perda, o esquecimento, esse renovador de sonhos?

Sim, alimentar-se todo dia, cada um decide de que. Conforme o paladar e a capacidade de digestão.
Faz bem ao fígado? Pense bem, você envelhecerá.

Sempre há motivo para se emocionar. Sensibilidade, contudo, é disfuncional, principalmente estando-se entre homens. Fragilidade se costuma chamar fraqueza.

emudeci

Emudeci.
O essencial é curto e lento
Não eclode

Enterrado cresce
Alimento de vermes viscerais

Imperceptível
Que assim permaneça
Segredo inviolável


Verdade ruim
Isolada em masmorra
Mantém mistério de recato

Do começo ao fim
Gênese.

Haveria transcorrido 5 minutos?
Todos instantes epifânicos.
Cortes, cenas e seladas lutas.

Aliados, ailados, islados
Sim. Ninguém.
Ruídos longe

- Olha o carro, vai chegar, tá subindo....


Pode acabar o perigo?
(de que seja violada a carne?).
Jaz ameaça de sangue rasgado
Como o mar que se abre fatiado

A pele cindida sob forte pressão
Ferrugem, também estava ela no sorriso?
Inflamada. Uma faísca de descontrole, o sol incendiado em nós.
Sêmen e mijo.
Predadores espreitam.

Há que cobrir a carne
Não derramar o sangue.
È gozo cortante
Rasgado deleite, sem cura nem redenção.

Desaforo, a vida.
Sua suspensão.
Não choremos o avesso.
Ele aduba a terra.
E ainda não era hora.

Bailarinas na poesia

A bailarina feito
de borracha e pássaro
dança no pavimento
anterior do sonho

A três horas de sono,
mais além dos sonhos,
as secretas câmaras
que a morte revela.

Entre monstros feitos
a tinta de escrever,
a bailarina feita
de borracha e pássaro.

Da diária e lenta
borracha ou pássaro
do inseto ou pássaro
que não sei caçar.

João Cabral de Melo Neto
In: Antologia Poética

arte, mesmo que trágica

“Refém do tempo, escravo da eternidade”
Boris Pasternak

Somos nós.

“A arte serve a beleza, e a beleza é a felicidade de possuir uma forma, e a forma é a chave orgânica da existência; tudo o que vive deve possuir uma forma para poder existir, e , portanto, a arte, mesmo a trágica, conta a felicidade da existência.”

Tudo o que para a noite releva – não adiantaria desejar o contrario. Então crescemos e nosso coracão se despedaça.

EXCEÇÃO

SEJA MEU NO INTERSTÍCIO DE UM HIATO. ENTRE DOIS TEMPOS E AS SUAS SUBSEQUÊNCIAS.
ACEITA A TRANSGRESSÃO DE CHEGAR ATÉ LÁ. ONDE POSSA TE FALAR NA MINHA LINGUAGEM. E A EXPRESSÃO SERÁ A QUE EU BUSCAVA, TALVEZ UM RECUO DE ESPANTO. SABEREMOS? VEREI SEU CORPO.
NÃO ME BEIJE. NÃO ME AME.
NÃO É GRAÇA NEM É À TOA QUE VAI AMANSAR, ACOLCHOAR AS ARESTAS DA LANÇA EMPETRADA DAS CONSAGRAÇÕES. SUPERE A REGRA E VIVA A EXCEÇÃO.

“A FRESTA QUE SE ABRIU EXTRAORDINARIAMNTE E QUE ME PERMITIU, NOS DESVÃOS DAS COINCIDÊNCIAS, EXISTIR”.

Imperscrutável

Não sei mais escrever. As palavras não me reconhecem.
Não vejo forma.

Menos que murmúrios. Não existe nada.
Líquido vazio
Em palco errado.

Susto ignorante
miséria.
A quem me dirigir?
A quem remeter-me?

um blefe.
Remanso

Que palavra?
A mão não responde.
A caneta vazou. 
Secou, ceguei

O telefone não toca.
A história é comum.
Sem registro documentado.
Já fui alguém?

Texto sem dimensão.

Saudade do que nunca vou viver.
Acabou tudo.
Aquilo.

Resta o que falta e o suspiro presente.
Cheio de erros. Esboços mal sucedidos.
Sem direito a restauração.


"amor, não vai fazer besteira".
Uma abstenção.
Longe daqui.
Desperta 

Rimas mal feitas
Esse esquecimento breve. 
Desconfortável.

Amputação 
Ser incompleto
Perdeu parte do corpo da coluna

Como quem perde a cabeça
Perde o controle

E se incendeia com quem quer


Meu pai fez mercado e trouxe compras para mim.
É repudiante. Tiranias

Qual é afinal o texto?
Veio a que?
Procura alguém? Resposta ao toque eletrônico


Renda-se, a verdade da vida não é tão ruim.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

tango

Hoje a noite acordou. Parece ouvir tango. Um andamento e a melodia sem tempo ou texto algum. Tragicamente sublime e tenso. Como viver de extremos e excesso.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Publicidade agressiva

Acabei de receber uma ligação da TIM. Não sei quem responde por essa nova promoção que reduzirá  40% ou até 60% dos meus gastos atuais. Queriam me visitar, agradeci. Não os convidei, e completei perguntando se ele sabia quanto eu gastava para garantir tal redução. Me respondeu que faria a conta.
" Muito obrigada, não estou interessada", respondi.
A título de curiosidade, um conhecido recebe contas da TIM em seu número que já superam o valor de R$ 500,00. Nunca foi cliente da TIM.

O senhor do outro lado da linha me respondeu: Bom prejuízo!
Não pude acreditar. Agradeci.

domingo, 19 de junho de 2011

Adjetivo

Sem adjetivos

Chegar à coisa
Sem véu a encobri-la

Uma descoberta substantiva
Já esta adjetivada de novo.

Tudo por não sabermos
Como chamar em silêncio
Quando tentamos adivinhar o céu.

Vem azul sublime divino
E permanece inatingível
Isso sim

Mais do que nunca
Mais do que antes da tentativa

Que dizer dela?
Uma busca só espera

Mão boca discurso texto
Dança corpo voz e alma
Na terra
A falta
Toda ela
Nada mais.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Poética de Chico Buarque. Quem não gosta?

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=veja-bastidores-do-novo-album-de-chico-

Pré venda a partir de amanhã!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Doçura

Doçura calma em que espero
Talvez você
Talvez só saber que tudo terminou
Por algum tempo

Tempo suficiente
Luminoso nesse olhar de mãe
Redentor. Que suporta insultos


Recebi seus panos, seus planos
Conheci sua avó, visto as suas roupas.
Sentei-me em seu lugar à mesa
E com todos, estive com você
Assim como por mim se sentiram próximos de você.

Longe de tudo

Afastados da cidade pairávamos em outra sintonia
Difícil retorno a nós mesmos
Às nossas vidas desarrumadas.

Eu gritava para aquele silêncio que me ensurdecia
Precisava falar mais e mais rápido e mais alto
Nada respondia. Ninguém se entendia

Nesse meio de caminho nos perdemos de novo
E não sei qual língua você fala
Quais referências poéticas te influenciaram
Em gostar ou não de mim

Eu daqui, que te vejo melhor
Agora você não pode ver nada,
Espero que não se assuste
E creia um pouco
Que de onde nós viemos era real

Dia dos namorados

Uma família, não a sua
Sim uma família triste que se une.
À mesa lembram de alguém
Parecem estar felizes
Mesmo que de longe o menino sofra

Sente saudades e frio
E vontade de tomar um vinho conosco
Não lembraria qual foi a última vez que quis algo assim
Mas seu nome não é pronunciado
Todos pensam nele
E estão felizes por estarem reunidos em nome dele
Mesmo que ele não saiba

Terá algum valor essa confraternização tranqüila?
Talvez o pior já tenha passado mesmo
E daí a leveza da noite

Em pouco tempo o menino estará de volta à casa
E nós esperamos por ele
Nesse calor que nos uniu

Sim, vou rezar por ele
Ainda é longa sua penúria 
Ele sabe o que suportará
E não entenderá como pudemos
Nos sentirmos bem juntos
Nessa estranha homenagem

Mas houve muita esperança
Que algo de hoje permaneça entre nós e aquele menino que ia morrer.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sangue

Vi muito sangue,
Não fechei os olhos.
Escorreu lindo e vibrante
Como se tivesse vida própria.
Muito sangue na terra úmida das aldeias

Sangue primordial

A paixão que nele se vale,
E a morte que derrama
Um pulso partido.

O vermelho sangue
Água lisa
Escorregadia alma
Como choro agressivo.
Nada entende da sorte
Sim, sangra sorrindo.

Nele pouso a vista.
Fingimento.
Sinto falta de morte.
De pesar sentido.

o sangue contundente
Sem virgula
Ponto de exclamação
Sombra em mim, em você
Subtração.

Subtração.
Sangue só sangue
Dissolução.Soluço por seu corpo,
Suas veias endurecidas.
As minhas ainda não
Empresto fusão
Dói o corte
A veia com gosto de sangue
Não é tão ruim

A pele sem corpo
O sangue sem veia
Brutal
Conforme
Tente rimar sem não.


Entorno
Pretensa lassidão
Tento pensar sem não

Ausência de vexar -me
No perverso blefe de seu retorno
Depois de humilhar-me

Quero sua presença
Para aprender a rimar sem verbo
Sem não
Só sangue, muito sangue verdadeiro
Na insuperável noite do nosso drama
Se me permite compartilhar
sua devassidão


Anúncio.O sangue quer dizer
Violenta contundência.

Arrisque se aproximar
me corte até os ossos
sugue esse sangue
Quanto sangue cabe numa injeção.

Injete seu sangue em meu sangue
A mesma agulha que levou mais que sangue
Injetou nova vida no corpo que você traía
Sangue de morte nesse corpo
Envenenado de escura vida
Ou estrelada noite que te rasgou.

O verbo e a negação
Você precinde deles
Mas houve
Houve algo grave
Tanto quanto uma injeção de veneno no corpo
Que vicia a dor
Deliciosa dor do pico de uma agulha

O pico da dor suportável
Pico da resistência do corpo

Sem senso
(Não importa)
Sua música e suas palavras
ainda havia quem as ouvisse
Leio seu sangue
Talvez me molhem suas lágrimas
Não sei de seu sangue
Ele não seguia o fluxo por onde eu ia

(Encontrar esquecimento
Tendo ao lado um fantasma)

Sangue derramado
Como se rompe uma veia?
Como furo no braço em busca de sangue
Pronto para receber farto veneno
Como você fazia, quero que pique minha veia
Torne impuro meu sangue
Vibrante em delírio

 
Como um rumo inexistente
Esse sangue por que procuro
Para por agulha liberta-lo
Trata essa veia dura
E ressucita o vício atormentado
Você disse que sente circulando
Sobe o braço pelo peito
Pico na veia com veneno,
Sangue que mata.
Traz morte e fura a pele,
Só a pele partida.

Corte não dói
Desejo ver muito sangue
E encontrar uma veia larga
Para uma agulha bem grossa
E inunda-la da heroína que te matou

Heroína, um sonífero, um calmante
Um inebriante contato com o sangue
Que troco por agulha
Por toda existência
Mais uma dose, só isso que peço
Para conhecer o que você viu
E ir tão longe como você chegou

Sondou demais seu flerte
Com toda negação do bem.
Fundo na sorte
Dando sua alma pela morte
A morte como amiga generosa
Concedeu
Que se aproximasse
Sedutora
Você não hesitou, foi o que procurou por toda vida
Essa vida ainda tão nova
Nova mesmo
Para tanto sangue derramado
Sua pele em recortes

Risco
Sangue, não entendo
Bela decadência
Num ciclo violento
Não evita o não
Só o verbo:
Existir em paz com corpo
Ausenta sua alma
Sussura da distância
não tem mais veias para furar
Cansei de busca-las
Vou viver em vão.


Entorno

domingo, 5 de junho de 2011

Onde encontro seu nome

A vida nos constrange mais com o passar do tempo
Lamente menos,
Ela não vale tanto.
Vale o juízo de sua pena 
Que escreve insensatez.

Se olhar para trás,
Suporte a lembrança.
Que te assolara em cruel desespero.
Mas mantenha firme sua dignidade,
Haverá uma história a ser contada a seu respeito.
Alguns atestarão. 

Eis o futuro. 
Escapar de nossa história,
E entrega-lá a júri alheio.
Talvez antes da vala comum. 

Todos seus erros, vícios pequenos
Fugas, grandes entregas
Expostas ao ridículo.
Mera história que talvez alguns ouçam com asco,
Sem considerar que a morte é a grande cilada.
Que convidou-lhe a testar seu gosto,
E no fundo era bom.

Deitou-se com essa mulher covardia.

Descansou nela seus sonhos.
Em noite em que teve medo,
De si e dessa mesma noite.
Sem luz alguma.
As estrelas estendidas na grama
Onde pisavam palavras acusatórias.
Que clamavam por algo.
Impossível .
Um título para toda a tragédia
Que assola a inocência todos os dias.

Novamente insisto, como que por natureza humana,
A pertencer e não existir sem o verbo.
Perigo,
Mas também só penso se posso escrever não.
Uma máscara saiu cara
E esse caos não tem presença,
Tem confirmação.

Povoará teus pesadelos futuros
Sem seu consentimento
Desafio para teu ego
Escreva agora sobre ele,
Sob o descontrole que viu.

Nem mais sua distância,
Claustro dos teus pecados.
Até que admita
E os abandone antes que morra.
Sem padre a querer que se salve e sinta alguma beleza no perdão.

Me faça encontrar sua alma,
Você que se deitou com a morte
Quando ela copulou com seus sonhos
E ninguém esteve presente. 

(Diante dessa bizarrisse e mistério, de querer um absurdo outro mundo sem escala, numa estonteante decadência. Num silêncio e numa outra negação).


Uma grande mentira essa sua revolta,
E você sangrava.

Seu sangue sem veia
Exultado por seu sofrimento.
O fluxo do sangue ilegítimo.
Seu pulso lento para que não ouça
E conte o que acabou de misturar a ele.

Sua música melódica
Sem rimas mas em permanente assombro.

Perturbara-se demais
Em torno de dúvidas que não tem respostas.
Aliás, nem devia tê-las encontrado
No portal do inferno
Quando pôs seus pés em brasa.
Quando sangrou forte prazer
Para que os outros vissem
Aonde você poderia chegar se abandonado a própria sorte.
Como imaginou ser possível nesse mundo cheio de gente
Mesmo que não as tolere.

Elas fazem questão de tê-lo entre elas,
Para arremate da sua loucura a leilão.
Ate que compreenda qual morte está embaixo de nós,
Brasa em que pisou e pisará a cada dia.
E se quiser preste atenção a teu sangue que pede, mas não pode
Viver da parceria que travou.

Te levar desse sol negro sem alivio.
Essa morte outra que não será sua aliada, só desafio.

Conjugue comigo a destruição.

Venha ter seu filho.
O diabo que reproduziremos
E que queimará meu leite até encontrar sangue fundo
De nosso sangue desiludido
Quando demos de ombros às perguntas
Tristes, tristes como música clássica solene.
 
Esse abraço que trouxe à vida
Um fiasco de esperança
Que quero que reconheça
Como nosso filho
Que bebe meu sangue impuro sem saber
Que vou esfaquea-lo, assim que esteja em meu colo
Seus belos olhinhos que procurarão ajuda
Terá que entender desde cedo que não há
Para que sobreviva bem no lixo enquanto existir
Sem brilho nem possibilidades
De ver beleza em lugar algum.









 






 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Escrever alivia a dor do que eu não soube amar

Flamenco - chama sagrada

O mar não tem nada a ver com a vida
Fala das almas perdidas
Infinito em comunhão com o ar.

O alto mar vê de longe a vida
E sua beira proibida
Tóxica, proibida em seu próprio altar.

Em paralelo, a areia - maresia de horizonte.

Voar-nossa paixão em brasa
Fogo em respeito ao rio
Foz fonte nascente
Bem ponte Cruz semente

Bem fértil em semente
Sagrado poente
Brisa crescente -neblina
Sinal de revoada

Sumiu o indício
Chuva em lapide de cristal
Cicatriz real.

Exposição

Uma bailarina drapeada de tule, voal ou cetim vive de outro além.
Se morre é por outra causa e suas lágrimas são de águas vivas,
Claro que salgadas, mas do mar, o que dele se alimenta,
E que queima-nos fora.
Sua condição é a perdição,
Vive tentando não acordar de pesadelos,
Mas pisa duro demais em chão de pedra para se sustentar.
Tenta em vão reverter o tempo que não houve, nunca a ouve.
Sem resposta se move para a platéia sem saber se a vêem ou entendem.
Mesmo assim insiste, e em meio a cadeiras vazias seu corpo padece.

Falhei de novo

Agora que tenho meus cabelos brancos, cada dia mais
E sem vida, assim como a pele que não reconheço
Tento começar alguma coisa
Voltar a andar com as pernas machucadas
Os ossos fracos, sem estrutura.
Será possível?
Ou ando na mesma direção, que é a conhecida.

Onde me sinto e ressinto.
Talvez tarde demais.
Coragem concluir isso.
E sentir as dores todos os dias.
Que me olho no espelho
Que tento movimentar minhas pernas.
Não consigo me movimentar como antes.
E é isso que mais lamento.



Volto a dançar quando tiver motivo
Ou paz.
Vai ser isso. Um retalho do que fiz.
A culpa é toda minha. O prazer foi todo meu.

Falta perdoar.
A mim mesma, antes que acabe o tempo.
Antes que não me entregue no momento oportuno.
Para não viver para trás.
E só me reconhecer no que fui, não no que estou agora