segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sangue

Vi muito sangue,
Não fechei os olhos.
Escorreu lindo e vibrante
Como se tivesse vida própria.
Muito sangue na terra úmida das aldeias

Sangue primordial

A paixão que nele se vale,
E a morte que derrama
Um pulso partido.

O vermelho sangue
Água lisa
Escorregadia alma
Como choro agressivo.
Nada entende da sorte
Sim, sangra sorrindo.

Nele pouso a vista.
Fingimento.
Sinto falta de morte.
De pesar sentido.

o sangue contundente
Sem virgula
Ponto de exclamação
Sombra em mim, em você
Subtração.

Subtração.
Sangue só sangue
Dissolução.Soluço por seu corpo,
Suas veias endurecidas.
As minhas ainda não
Empresto fusão
Dói o corte
A veia com gosto de sangue
Não é tão ruim

A pele sem corpo
O sangue sem veia
Brutal
Conforme
Tente rimar sem não.


Entorno
Pretensa lassidão
Tento pensar sem não

Ausência de vexar -me
No perverso blefe de seu retorno
Depois de humilhar-me

Quero sua presença
Para aprender a rimar sem verbo
Sem não
Só sangue, muito sangue verdadeiro
Na insuperável noite do nosso drama
Se me permite compartilhar
sua devassidão


Anúncio.O sangue quer dizer
Violenta contundência.

Arrisque se aproximar
me corte até os ossos
sugue esse sangue
Quanto sangue cabe numa injeção.

Injete seu sangue em meu sangue
A mesma agulha que levou mais que sangue
Injetou nova vida no corpo que você traía
Sangue de morte nesse corpo
Envenenado de escura vida
Ou estrelada noite que te rasgou.

O verbo e a negação
Você precinde deles
Mas houve
Houve algo grave
Tanto quanto uma injeção de veneno no corpo
Que vicia a dor
Deliciosa dor do pico de uma agulha

O pico da dor suportável
Pico da resistência do corpo

Sem senso
(Não importa)
Sua música e suas palavras
ainda havia quem as ouvisse
Leio seu sangue
Talvez me molhem suas lágrimas
Não sei de seu sangue
Ele não seguia o fluxo por onde eu ia

(Encontrar esquecimento
Tendo ao lado um fantasma)

Sangue derramado
Como se rompe uma veia?
Como furo no braço em busca de sangue
Pronto para receber farto veneno
Como você fazia, quero que pique minha veia
Torne impuro meu sangue
Vibrante em delírio

 
Como um rumo inexistente
Esse sangue por que procuro
Para por agulha liberta-lo
Trata essa veia dura
E ressucita o vício atormentado
Você disse que sente circulando
Sobe o braço pelo peito
Pico na veia com veneno,
Sangue que mata.
Traz morte e fura a pele,
Só a pele partida.

Corte não dói
Desejo ver muito sangue
E encontrar uma veia larga
Para uma agulha bem grossa
E inunda-la da heroína que te matou

Heroína, um sonífero, um calmante
Um inebriante contato com o sangue
Que troco por agulha
Por toda existência
Mais uma dose, só isso que peço
Para conhecer o que você viu
E ir tão longe como você chegou

Sondou demais seu flerte
Com toda negação do bem.
Fundo na sorte
Dando sua alma pela morte
A morte como amiga generosa
Concedeu
Que se aproximasse
Sedutora
Você não hesitou, foi o que procurou por toda vida
Essa vida ainda tão nova
Nova mesmo
Para tanto sangue derramado
Sua pele em recortes

Risco
Sangue, não entendo
Bela decadência
Num ciclo violento
Não evita o não
Só o verbo:
Existir em paz com corpo
Ausenta sua alma
Sussura da distância
não tem mais veias para furar
Cansei de busca-las
Vou viver em vão.


Entorno

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