quarta-feira, 31 de agosto de 2011

KIROV

Os virtuosos bailarinos da Cia. sediada no Teatro Mariinsky reforçam, para quem duvida, que as remontagens de obras de Ballets Clássicos tradicionais, como O Lago dos Cisnes, concluido em 1876, com a coreografia de Marius Petipa e música de Tchaikovsky, atraem e agradam platéias acostumadas a ver bailarinos descalços em espetáculos de dança contemporânea.
Que se discutisse se eram 4 atos ou 3, não importa, a informação foi obtida na Wikipedia. Em tempo: são 3 atos e 4 cenas. Mas o cenário e os figurinos eram impressionantes. Foram três horas de espetáculo para uma platéia incansável.
Para não dizer que não falei de flores.
O cruzeiro das almas e seus afins. Ritos da Umbanda.

Traição

NÃO! A tudo que mata, dura, range e não para. E não passa. Não ao que inflama o espírito em vão. Qualquer corpo estirado e vencido no chão. À vida que demora ou vai embora e nem espera que seja sentida, sorvida em tragos.
Não ouço, não obedeço e em mim só há silêncio. E mesmo assim me sinto encurralada. Preso num corpo morada. Só nessa vala escura e esse mar azul verde sem descanso. Nesse descaso absoluto. Seus peixes que não voam e seu fundo que não se alcança. Quase nos encontramos. Mas os desencontros são a paródia da vida. E ele não me aceita e se me jogo ele me mata afogada por ar. Nunca mais. Tenho saudade do que não gostava. Atiraria-me contra as pedras se então viesse ao menos uma tristeza imensa. Mas o coração é uma vaga. Nem chega a ser dor. Qualquer coisa que foge da compreensão. Um choro seco e árido. Uma memória que atua no presente e se interpõe. E a água arrebenta e se recompõe. Antes fosse líquida essa aflição de pedra maldita.
Tentei reconstruir aquela imagem em ângulo fiel. Por onde caíam os cabelos ondulados? A boca estava entreaberta? O olhar era lindo e perdido num sem horizonte?
Me tire do agora em que me aperto. E o mar é para ser visto do ar. Senão viro mar e o mar não se sabe. Navegar já é perto demais. Quem me contorna? O abraço impossível. E o tempo perdido.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lençol branco de seda



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Duma valsa branda
vigora em seu andamento
todo o vigor da imagem,
violenta, da impossibilidade.
Da surdez o choro convulsivo
dum corpo abandonado
pelo espanto da síntese do tempo.
 
A moldura dum verde
da mata emoldurada
quase nuvem
o edredom grosso branco esconderijo.
 
Lá me escondo e penso na morte.
Num não poder querer,
doença da vontade
que desafia o desejo
de estar alguém.
 
e os pés pisam de leve
mas repicam
e até isso faz-se sentir
e tem peso.
Enterre os pés na argila
então.
Sabe-se do fundo desse lago
lindo parado sem oxigênio
- ou quase - que coisas mais vivas acontecem
perigosas - entre os homens astutos que sabem respirar ar seco e cinza.
Contudo, basta-me por hora, por hora,
esse repouso cansativo.
Cansei-me tanto de tudo que só vejo cansaço e morte
O horizonte dentro da água é ele mesmo.
Está em meus próprios olhos.
E se o vento venta à superfície, constato que quanto mais fundo melhor.
Cale-se, você nunca soube viver como os outros
 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Não tenho palavras..

Sem palavras
Silêncio quase anúncio
Do que nem intuo

Para onde vão os que estão sem palavras?
Sexta feira todos conversam em bares
Mas falar soa estranho
E melhor então que não haja perguntas

Não há sentido para haver opinião
E olho descrente o que não entendo
Tudo falta e é só noite

É cedo

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A vida cansa e nos desmente
O cotidiano rígido, um fardo
A disciplina regra
O sono exigência
A fome mal digerida

Sentamos, e as pernas sob a mesa poderiam correr
Oramos, e os olhos pedem para não sofrer
A boca selada
Uma imagem descolada dum lugar.
Sei lá quando ou onde,
passei por lá

Foi livre a loucura
E interdita, 
Mas lá ela se revelou
Em toda sua glória insensata.


Foi estranhamente verdadeiro
Aquele susto que amedrontou
Não havia nem preto nem branco
Só uma indistinção
Entre o que era seu e o que era eu.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Verão

Verão

Numa febre 
A pele está
Como lã em calor suor

Suporte de luz
Que abafa a água
E umidece a face

Sorridente busca
Curar a camada interna
Invisível e transparente
Que enxerga-se em dia

Ultrapassou o limite
Do esquecimento possível
E agora fala
Queima sons
Do ar preso no peito

Suspiro, da hora que espreguiça-se e pede
Que recomece a manhã tardia
Evapore o orvalho e cubra os dois mundos
Em um só pedaço o dia