quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Traição

NÃO! A tudo que mata, dura, range e não para. E não passa. Não ao que inflama o espírito em vão. Qualquer corpo estirado e vencido no chão. À vida que demora ou vai embora e nem espera que seja sentida, sorvida em tragos.
Não ouço, não obedeço e em mim só há silêncio. E mesmo assim me sinto encurralada. Preso num corpo morada. Só nessa vala escura e esse mar azul verde sem descanso. Nesse descaso absoluto. Seus peixes que não voam e seu fundo que não se alcança. Quase nos encontramos. Mas os desencontros são a paródia da vida. E ele não me aceita e se me jogo ele me mata afogada por ar. Nunca mais. Tenho saudade do que não gostava. Atiraria-me contra as pedras se então viesse ao menos uma tristeza imensa. Mas o coração é uma vaga. Nem chega a ser dor. Qualquer coisa que foge da compreensão. Um choro seco e árido. Uma memória que atua no presente e se interpõe. E a água arrebenta e se recompõe. Antes fosse líquida essa aflição de pedra maldita.
Tentei reconstruir aquela imagem em ângulo fiel. Por onde caíam os cabelos ondulados? A boca estava entreaberta? O olhar era lindo e perdido num sem horizonte?
Me tire do agora em que me aperto. E o mar é para ser visto do ar. Senão viro mar e o mar não se sabe. Navegar já é perto demais. Quem me contorna? O abraço impossível. E o tempo perdido.

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