domingo, 8 de abril de 2012

artista?

Quis ser artista, dessas que dançam em outros países, longe de casa e dos afetos íntegros e fechados. Ficar fora de mim de tanto girar e saltar. Arejar de movimento e derramar gotas de suor no linóleo, chão oco.

Ou cantar nos quiosques das praias da zona sul do Rio de Janeiro, para receber em troca uns tragos. Elegante, sem nome, e discreta como som ambiente.

Também ser dona de casa e aprender a arte ancestral de ser mulher para um homem. Um único, com toda doçura que a aceitação confere ao olhar.

Mas perdi tantos amores que o abandono me é caro. A entrega é covarde e rasa e rara, não convence e não há mais caminho que conduza um homem aos meus sentimentos já envelhecidos pela desilusão.

Há quem eu envolva em meus braços, sem, no entanto, poder deter-me em olhá-lo.....( encarar fixamente seu olhar)
Já está praticamente embalado para partida, esse que mal chegou.
Não deve haver sinais, nem bagunça ou barulho.
Cala-te e parte em busca do amor eterno...não em mim, não mais.

Compactei meu desespero em emudecimento perplexo, o rosto se transfigurou e toda beleza se ressentiu e definhou, para não atrair mais curiosos.

Mudei de cidade, fugi de casa. Acompanhou-me o passado que se revigorou na ausência. Quanto espanto por perceber que ele se incrustou no corpo e vive como câncer que não mata.

Amei um gay que me ensinou os prazeres do meu corpo de mulher apesar da pouca familiaridade que tinha com essas tais formas.

Bebi demais e entristeci. Rasguei a pele e a colori de folha e lírio.
Adoeci, o corpo chorou por cuidados, mas a alma buscou mais vertigem e quis sentir o hálito da morte mais perto para então querer paz nos dias.

Fui enganada pela noite assustadora. Liguei a TV, o rádio, o computador e fiz uma ligação telefônica para qualquer um.
Nada para me distrair dos meus olhos abertos no breu.

Implorei por cuidado e acolhimento, mas não pude esperar. Destruí tudo para por fim à esperança, essa tola que pede carona na estrada com uma mão na frente e outra atrás, teimosa mesmo enquanto travessia.

Dilacerada renasci no mesmo lugar e os ares eram os mesmo também.
O estranhamento foi total.

Fugi da cidade e quis idílio no campo, com um senhor rico que quem sabe eu viesse a amar. Se houvesse tempo ou sabedoria para não adiar.

Chovi e escureci em dias de praia e mar. Nas trevas busquei a luz ou algo que me trouxesse de volta a mim.

Nunca fui inteira, sempre deixei de querer o que já possuía e persegui incertezas nunca esclarecidas, um longe que ainda não alcancei.

Desejei tudo e nada tive que me fizesse perceber quem sou.

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